Por Serôdio Towo
Ao contrário do que afirmou o comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, os tumultos que culminaram com a evasão de reclusos em pleno Natal, na província de Maputo, começaram no Estabelecimento Penitenciário Especial de Máxima Segurança da Machava, vulgarmente conhecido como BO.
Dossiers & Factos foi atrás da história e apurou que, na BO, reclusos incendiaram um pneu de grandes dimensões, colocando-o posteriormente sob a guarita. De seguida, exigiram que o guarda escalado descesse da guarita e entregasse a arma de fogo. Intoxicado pelo fumo denso, o guarda deixou cair a arma e lançou-se para o exterior do estabelecimento penitenciário.
Na posse da referida arma, a multidão de reclusos transpôs o muro que separa a BO do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo (Cadeia Central), juntando-se a um outro grande grupo de reclusos. Nesse instante, a rebelião, liderada pelos reclusos provenientes da BO, escalou de nível, com estes a iniciarem uma marcha em direcção aos portões 1 e 2 da Cadeia Central.
Negligência dos Agentes Correccionais
Apercebendo-se de que os reclusos possuíam uma arma de fogo (a trazida da BO), os agentes correccionais recuaram do perímetro reclusório para a área administrativa, e alguns guardas abandonaram as suas armas junto ao portão, deixando-as à mercê dos reclusos, que as tomaram.
Contudo, ambas as armas abandonadas não possuíam munições. Apenas a arma proveniente da BO estava municiada, permitindo aos internos arrombar os portões 1 e 2 e fugir em debandada. Calcula-se que cerca de 200 reclusos tenham fugido da BO, enquanto o número de evadidos da Cadeia Central continuava incerto pelo menos até as primeiras horas desta quinta-feira.
Reclusos alvejam militar na zona do quartel
Na zona da Manduca, onde se situa o Instituto Superior de Estudos de Defesa "Tenente-General Armando Emílio Guebuza”, parte dos evadidos, por falta de conhecimento do terreno, seguiu um caminho errado e acabou por entrar na zona do quartel. Ao depararem-se com um militar, abriram fogo com a única arma que tinham, atingindo-o na zona abdominal.
Furiosos com o ataque ao colega, os militares mobilizaram uma viatura BTR para conter a evasão e iniciaram uma operação de perseguição e busca pelas casas próximas, com o objectivo de recapturar os evadidos. Durante esta acção, mais de 60 pessoas foram recolhidas, incluindo alguns indivíduos que não eram reclusos.
Militares matam 33 pessoas e ferem 37 com gravidade
Dentro da cadeia, contra a suposta objecção dos agentes correccionais, os militares e os agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) procederam a execuções sumárias, matando 33 pessoas a sangue-frio e ferindo gravemente outras 37. Alguns dos reclusos foram alvejados no interior das celas.
Sabe-se que, dos evadidos da BO, apenas nove foram recapturados, contra mais de 60 da Cadeia Central. Parte dos indivíduos não reclusos acabou por ser libertada após se provar que não tinham problemas pendentes com a justiça.
Agentes correccionais espancados
Os reclusos, além de tomarem as armas, também espancaram com gravidade um agente correccional que estava de serviço. Conhecido por Matrudjana, o referido agente encontra-se actualmente a receber cuidados intensivos num hospital da capital moçambicana.
Na manhã de hoje, 26 de Dezembro, no bairro Georgi Dimitrov (Benfica), uma outra funcionária foi abordada por um grupo de indivíduos ainda não identificados. Ao vasculharem a sua pasta e descobrirem o uniforme do serviço, decidiram espancá-la. O pior foi evitado graças à intervenção de populares.
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